A obesidade se tornou um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil e no mundo. Em minha experiência como nutricionista, observo diariamente o quanto emagrecer com obesidade grau 1 ou 2 pode ser desafiador, especialmente quando existem comorbidades associadas.

    Segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, 31% dos brasileiros vivem com obesidade e 37% com sobrepeso, totalizando impressionantes 68% da população com excesso de peso.

    Esse cenário alarmante exige uma abordagem especializada, baseada em evidências científicas e personalizada para cada paciente.

    A crescente epidemia de obesidade no Brasil

    Os números são preocupantes. A obesidade aumentou 72% no Brasil nos últimos treze anos, saltando de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019.

    Dados mais recentes do Vigitel 2023 mostram que a frequência de adultos com obesidade já atingiu 24,3% da população.

    Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz apresenta projeções ainda mais alarmantes: até 2044, quase metade dos adultos brasileiros (48%) terá obesidade e outros 27% estarão com sobrepeso.

    Atualmente, o excesso de peso atinge 55,4% da população adulta nas capitais brasileiras, com uma frequência ligeiramente maior entre homens (57,1%) do que entre mulheres (53,9%).

    Esse quadro tem gerado um impacto significativo no sistema de saúde, com aumento das doenças crônicas não transmissíveis.

    Entendendo a obesidade grau 1 e 2

    Para desenvolver estratégias eficazes de tratamento, é fundamental compreender a classificação da obesidade.

    Segundo os parâmetros médicos, a obesidade é dividida em graus conforme o Índice de Massa Corporal (IMC):

    • Obesidade grau 1: IMC entre 30 e 34,9 kg/m²
    • Obesidade grau 2: IMC entre 35 e 39,9 kg/m²
    • Obesidade grau 3: IMC igual ou superior a 40 kg/m²

    A obesidade grau 1, apesar de ser considerada uma forma menos grave da doença, já representa riscos significativos à saúde. Já a obesidade grau 2 apresenta riscos mais elevados e frequentemente está associada a comorbidades que requerem intervenção médica e nutricional mais intensa.

    Comorbidades que agravam o quadro de obesidade

    Em minha prática clínica, observo que pacientes com obesidade raramente apresentam apenas excesso de peso.

    Na maioria dos casos, existem comorbidades associadas que complicam o quadro e exigem abordagem multidisciplinar. As principais são:

    Alterações metabólicas:

    • Diabetes mellitus tipo 2
    • Hipertensão arterial sistêmica
    • Dislipidemias (colesterol e triglicérides elevados)
    • Doença hepática gordurosa não alcoólica

    Problemas cardiovasculares:

    • Cardiopatia isquêmica
    • Insuficiência cardíaca congestiva
    • Outras cardiopatias

    Problemas respiratórios:

    • Síndrome da apneia obstrutiva do sono
    • Síndrome da hipoventilação pulmonar

    Problemas articulares:

    • Artropatias
    • Dores lombares crônicas
    • Limitações de mobilidade

    Riscos aumentados de câncer:

    • Câncer de cólon e reto
    • Câncer de mama
    • Câncer de endométrio
    • Outros tipos específicos

    Estratégias eficazes para emagrecer com obesidade grau 1 ou 2

    Como nutricionista virtual que atende com frequência pacientes com este perfil, tenho observado que o sucesso no emagrecimento depende de uma abordagem personalizada e abrangente.

    Para emagrecer com obesidade grau 1 ou 2 de forma saudável e sustentável, recomendo:

    1. Avaliação clínica completa

    O primeiro passo é realizar uma avaliação detalhada, incluindo exames laboratoriais que permitam identificar alterações metabólicas e comorbidades, pois isso possibilita um tratamento direcionado não apenas ao emagrecimento, mas também ao controle das condições associadas.

    2. Plano alimentar individualizado

    Cada organismo responde de maneira diferente às intervenções nutricionais. Em meus atendimentos, elaboro planos alimentares que consideram:

    • Preferências alimentares do paciente
    • Rotina diária
    • Comorbidades existentes
    • Medicamentos em uso
    • Histórico de dietas anteriores

    3. Déficit calórico moderado

    Para pacientes com obesidade e comorbidades, não recomendo dietas restritivas. Reduções calóricas moderadas (de 500 a 700 kcal/dia) produzem resultados mais sustentáveis e menos impacto nas comorbidades, representando uma perda de peso saudável de 0,5 a 1kg por semana.

    4. Atividade física adaptada

    O exercício físico é parte fundamental do tratamento, porém, deve ser adaptado às limitações do paciente. Iniciar com caminhadas leves e aumentar gradualmente a intensidade tem se mostrado eficaz para pacientes com problemas articulares ou cardiovasculares.

    5. Acompanhamento psicológico

    Grande parte dos meus pacientes que conseguem emagrecer com obesidade grau 1 ou 2 contam com suporte psicológico. A relação com a comida é complexa e frequentemente envolve questões emocionais que precisam ser trabalhadas.

    O papel da nutricionista no tratamento da obesidade

    A tecnologia tem revolucionado o tratamento da obesidade. Como nutricionista digital, tenho conseguido ampliar o acesso de pacientes ao acompanhamento nutricional especializado, independentemente de sua localização geográfica.

    Para muitos dos meus pacientes com mobilidade reduzida devido ao excesso de peso ou outras limitações, o atendimento remoto tem sido a única forma viável de acesso ao tratamento nutricional especializado.

    As vantagens do acompanhamento nutricional digital incluem:

    • Flexibilidade de horários
    • Eliminação de deslocamentos
    • Acompanhamento contínuo via chat
    • Monitoramento de resultados por aplicativos
    • Maior adesão ao tratamento

    Tratamentos complementares

    Em casos específicos, principalmente na obesidade grau 2 com comorbidades graves, podem ser necessárias intervenções adicionais:

    Medicamentos para obesidade

    O tratamento farmacológico pode ser indicado por médicos especialistas.

    Sempre oriento meus pacientes que medicamentos devem ser apenas coadjuvantes no processo de emagrecimento, nunca substituindo as mudanças no estilo de vida.

    Cirurgia bariátrica

    Para obesidade grau 2 com comorbidades graves que não respondem ao tratamento convencional, a cirurgia bariátrica pode ser considerada. Mesmo nestes casos, o acompanhamento nutricional pré e pós-operatório é essencial para o sucesso do tratamento.

    Conclusão

    Emagrecer com obesidade grau 1 ou 2 e comorbidades associadas é possível, desde que haja uma abordagem multidisciplinar, personalizada e baseada em evidências científicas.

    Como nutricionista especialista nessa área, tenho observado resultados significativos quando o paciente recebe suporte adequado e compreende que o objetivo vai além da perda de peso, buscando a melhora global da saúde.

    O acompanhamento com nutricionista, seja presencial ou por meio de consultas online, é fundamental para garantir que o emagrecimento ocorra de forma saudável e sustentável, minimizando os riscos associados às comorbidades.

    Cada pequena mudança nos hábitos alimentares representa um grande passo para uma vida mais saudável.

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    Juliana Borges, formada pela Universidade Católica de Goiás, é nutricionista e ex-atleta bicampeã Brasileira de musculação na categoria Wells. Atualmente, atua nas áreas de nutrição esportiva e nutrição em estética.